sexta-feira, 10 de julho de 2009

Amigos promovem exposição para lembrar Luciano Maurício



(A Voz da Serra de hoje)
Exposição lembra Luciano Maurício, o mestre das naturezas-mortas
Dalva Ventura
Os numerosos amigos de Luciano Maurício têm um encontro marcado nesta sexta-feira, 10, às 19h30, no Centro de Arte (Praça Getúlio Vargas 71, Centro), quando será inaugurada a exposição deste grande artista, que viveu em Nova Friburgo durante mais de vinte anos, entre as décadas de 70 e 90.
Mesmo após a sua morte, em 2004, suas obras continuam inquietantes, vivas. Até hoje Luciano é cultuado como um dos mais importantes criadores de naturezas mortas do país. Ele foi uma espécie de guru para toda uma geração. Mais que um artista, Luciano era poeta, pensador, filósofo, enfim. Um mestre na completa acepção desta palavra. Sua sensibilidade aflorava não apenas em seus quadros, mas em tudo o que fazia.
Artista plástico de grande expressão, reconhecido nacionalmente, Luciano viveu em Nova Friburgo durante muito tempo. Sua casa estava sempre de portas abertas para os amigos, que eram muitos. Que figura incrível o Luciano! Que obra igualmente incrível! E que papo! Luciano estava sempre aberto para ouvir e conversar, com sua ironia fina, seu sarcasmo, sua sabedoria, sua delicadeza, sua maneira peculiar de ver a vida.
Gostava de contar histórias sobre o tempo em que trabalhou como cenógrafo na TV Tupi e suas aventuras, desventuras, amores e casamentos, que foram inúmeros. Falava muito de Di Cavalcanti, com quem partilhou atelier durante muito tempo. Luciano contribuiu significativamente para a formação de muitos artistas friburguenses, nem tanto através de aulas, mas principalmente pela convivência.
Em uma entrevista a Roberto Grey na extinta revista Zoom, ele declarou: “A promiscuidade do Rio estava me aporrinhando a paciência. Aqui há a possibilidade do silêncio”. E continuava: “Quando vim aqui pela primeira vez não vi só um arco-íris; vi uma dezena. A partir de Mury, os arco-íris se cruzavam. Senti que esta era uma terra mágica”. Na entrevista ele contava ter se assumido como artista desde que entrou para a Escola de Belas Artes, aos 20 anos, mas ainda tinha dúvidas. Escrevia poemas e até fazia parte de um grupo de poetas. Mas confessou a Grey que era fraco como poeta. “Ainda bem que não me iludi com o que o Drummond - talvez num momento de carinho por mim - me disse, que eu seria o maior poeta da minha geração”.
O fato é que, para ganhar seu sustento, Luciano tinha uma série de atividades paralelas, até porque, pintura moderna não vendia nada naqueles tempos. Trabalhou como avaliador na Caixa Econômica, foi calculista de concreto, deu aulas de cálculo, foi locutor da Rádio Nacional. Já mais próximo das artes plásticas, atuou durante bastante tempo como cenógrafo, foi professor de cenografia no Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde também mantinha um curso de pintura e, no Rio, dirigiu a cenografia da TV Tupi.
Também dirigiu a Petit Galerie, em Ipanema, na época do boom do mercado de arte no Brasil.Sua importância dentro do universo de artistas plásticos brasileiros é inquestionável. Fez diversas exposições individuais nas principais galerias de arte do país e participou de vários Salões Nacionais e da Bienal de São Paulo, onde ganhou medalha de prata. Quando jovem, ensinou pintura na Escola do Povo, uma criação de Portinari, e trabalhou algum tempo como assistente de Di Cavalcanti.
As naturezas-mortas são marcas registradas de Luciano Maurício. Só que são trabalhos muito diferentes das naturezas-mortas acadêmicas que se vê por aí. “A natureza-morta é para mim um pretexto para colocar um recado. Muitas das naturezas-mortas que pinto são incrivelmente eróticas. Faço-as em clima de alta tensão ou melhor, de alta tensão. A maioria das pessoas não percebe porque ainda há esse negócio de pensar que natureza morta é para sala de jantar”, declarou certa vez.
Luciano Maurício morreu em 2004, com 79 anos, mas sua presença continua mais viva do que nunca. Sua exposição poderá ser visitada de terça-feira a domingo, até 30 de julho, das 10h às 21h. (Fotos: Paulo Henrique)

2 comentários:

Ana Borges disse...

Que mostra linda! Isso sim é uma exposição de encher os olhos e lavar a alma. Me deu uma saudade danada do Luciano. Mas ele tava por ali, não estava, Dalvinha?

Cris V disse...

Se ele estava eu não sei, mas ali ele estava sendo lembrado e,como disse alguém, as pessoas só morrem quando ninguém se lembra delas...