quinta-feira, 25 de março de 2010

Chico Buarque, o escritor


Acabo de reler Leite Derramado e se não estivesse com tantos outros livros para ler, acho que toparia tresler esta obra-prima. Minha relação com o escritor Chico Buarque é de devoção absoluta. Mais ainda que como músico. E olha que sou looooooooooooooouca pelas músicas de Chico, tipo macaca de auditório mesmo.

Seus livros, porém, me atingem tanto, sei lá o motivo, que uma vez só é pouco para me satisfazer. Quero sempre mais. Fazenda Modelo, o primeiro que li, não chegou a me tocar tanto, mas a partir de Benjamim e Estorvo, passei até a preferir o Chico escritor ao Chico compositor. Com Budapeste, que já li sei lá quantas vezes, esta preferência se consolidou ainda mais. De uma certa forma, como jornalista, me identifiquei com a história do ghost-writer José Costa. O filme, de Walter Carvalho, é fantástico, mas o livro é melhor, muito melhor.

Cheguei, então, a Leite Derramado, que comecei a ler lá pelo final do ano, economizando para não acabar. Creio que este seja o livro mais denso de todos os que ele já escreveu. É espetacular.

Uma saga familiar, mostrando a decadência social e econômica da nobreza e da burguesia brasileira. A fala confusa, embaralhada e por vezes repetitiva do personagem principal, Eulálio Montenegro d´Assumpção, quase morrendo num leito pobre de hospital, é comovente. De família nobre, eles nos passa uma visão extremamente pessimista da sociedade brasileira desde aqueles tempos, os preconceitos de classe e de raça, o machismo, o oportunismo, a corrupção, a destruição da natureza, a delinqüência, está tudo ali. Impressionante como em tão poucas páginas

Chico consegue dar vida a tantos personagens, que se tornam, também inesquecíveis para quem leu! Nem estou falando de Matilde, sua grande paixão, mas da filha, da amiga da filha, do neto, da namorada do neto. Sem falar na enfermeira para quem, em princípio, ele está contando sua história.

Sei não, acho que vou pegar nele de novo, só para marcar umas passagens que adorei, como esta, por exemplo, quando referindo-se à sua filha Eulália, ao tornar-se avó, fala que "avós são que nem mães meio abobalhadas". Pura verdade. É o que eu sou com a minha Alice...

E, por falar em Alice, como é que eu pude esquecer de citar neste post os livros infantis de Chico... Sua obra-prima, Chapeuzinho Amarelo, já dei de presente para um monte de sobrinhas. Que coisa linda este livro.



quinta-feira, 18 de março de 2010

De depressão e outros bichos



Ando nostálgica demais e até um pouco deprimida, eu diria, daí meu sumiço aqui no blog.
Interessante como certos sentimentos surgem assim meio sem explicação e sem motivo. E, pior ainda, quando chegam a tomar conta da pessoa, deixando-a literalmente prostrada, incapaz de tomar iniciativas, por vezes até de trabalhar, de produzir.
Não é meu caso. Mesmo. Não sou chegada à fossa e baixo astral. De fossa só gosto mesmo é de Dolores Duran, Maysa, Nora Ney e Edith Piaf, Billie Holliday, Aznavour e tantos outros mais.

Tenho um medo danado da tal da depressão. Sei o quanto este estado é malévolo e perigoso. Já vi pessoas queridas se isolarem por completo, se destruírem, sob o jugo desta terrível doença. Um amigo meu se jogou recentemente da ponte Rio-Niterói. Deixou mulher, dois filhos, que horror. Pelo menos duas grandes amigas minhas, ambas brilhantes, uma artista plástica e outra, jornalista, jamais conseguiram se livrar das garras da depressão. Ainda estão vivas, mas é quase como se não estivessem.

E olha que hoje dispomos de tratamentos avançados e eficientes, medicamentos que dão conta de controlar pelo menos os sintomas da doença. Mesmo que, como li não sei aonde, que estes funcionam como um band-aid, nada mais são que curativos, impedindo que a pessoa se machuque ainda mais.

Eu, em??? Estou fora. Assim que der vou é passar uns dias no Rio. Estou precisando de sol, de mergulhar no mar, de rever amigos queridos, de ir ao teatro e depois sair para jantar, de passar horas na Livraria da Travessa esquecida do tempo, de ir ao Cervantes comer sanduíche de rosbife, de dormir e acordar tarde, enfim, de sair da rotina.

De repente, é só o que está me faltando. E só de pensar nisso já melhorei de astral.





Imagem Kevin Peterson

sexta-feira, 12 de março de 2010

De poesia e poetas


Estou praticamente sem computador. Meu notebook foi para uma geral desde segunda-feira e estou usando precariamente o daqui da sala. Não gosto. Sinto-me como se estivesse trabalhando ou melhor, como se não tivesse parado de trabalhar. Muito diferente de curtir blog (o meu e o dos outros) recostadinha na minha cama na frente da TV...

Não que eu não goste do meu trabalho, longe disso. Gosto e gosto muito. Mas escrever sob encomenda, com todas as restrições e limitações comuns à imprensa (principalmente no caso de um jornal do interior) é bem diferente de escrever o que vem à cabeça, sem pauta, sem ter que pedir aval de ninguém, sem se preocupar em agradar ou desagradar.

Por outro lado, tem sido bom este distanciamento.
Com Cris V assim meio por baixo, meu lado poeta, o mais obscuro, mais inseguro, mais escondido e menos trabalhado de minha personalidade, tem tido alguma oportunidade de se manifestar...

Desde a adolescência me atrevo a fazer poesia. Ou melhor, tento fazer poesia. A maioria (bota maioria nisso!) jogo fora no ato. O que sobra, também não demora a dançar. Tenho uma autocrítica bem desenvolvida e um razoável conhecimento do tema (pelo menos, muita leitura, pois sempre fui uma leitora voraz de poesia), que me permite avaliar com bastante isenção minha "produção poética", digamos assim. E, pelo menos por enquanto, posso garantir que ela não resiste a uma análise criteriosa. Priscila V (ou o pouco que dela sobra) tem mais é que ficar escondidinha no seu canto, treinando, treinando... Quem sabe um dia ela consiga produzir algo que possa até ser postado aqui no blog?

Que gênero difícil, a poesia. Não importa se com rima, sem rima, com métrica ou sem métrica, se poema, soneto, haikai ou até mesmo uma trova, tudo isso se reveste, pelo menos para mim, de uma extrema complexidade. E a facilidade com que se cai no pieguismo ou no kitsch! Talvez para os grandes, os verdadeiros poetas, isso não seja assim. E tem gente que já nasce poeta, não tem jeito. É o caso da minha sobrinha Rachel Rabello, que não tem mais de 20 anos mas desde sempre faz poesia da mais alta qualidade. Seria um dom inato? Pode ser desenvolvido? Qual o segredo???

De uma coisa eu sei. Não basta ter sensibilidade, criatividade, domínio de texto e adorar poesia para dominar minimamente este gênero literário. Eu amo poesia desde que me entendo por gente. Minha alma precisa de poesia tanto quanto precisa de música. São de poesia os meus livros de cabeceira e alguns dos meus blogs favoritos, o Terra de Esperança, o Poemblog, o Poesia Ilimitada, o Efemeridades e Delírios, o Confetes e ainda outros que acabo descobrindo e passando a seguir.

Bem que eu gostaria de ser capaz. Por enquanto, me limito a treinar e a curtir estes autores que alimentam nossa alma de beleza e sensibilidade. Neste domingo, 14 de março, Dia Internacional da Poesia, minha homenagem aos grandes poetas de ontem e de hoje. Os consagrados, os menos conhecidos, os anônimos e os quase anônimos. Com destaque para os meus favoritos: Pessoa, claro, Drummond, claro, Vinicius, claro, Cecília, claro, e Lorca, e Florbela Espanca, e Neruda e tantos outros mais. Sem falar em Ana Cristina César, Cacaso, Bruna Lombardi, Alice Ruiz, Caio Fernando Abreu, Adélia Prado, Ferreira Goulart, enfim, uma lista interminável. Felizmente.


Imagem de Colin Thompson






domingo, 7 de março de 2010

O alto astral dos coletores de lixo



Na semana passada, eu voltava da faculdade quando um caminhão de lixo me fez diminuir a marcha. Em de desviar e pegar a outra pista da avenida, que estava livre, fiquei alguns bons minutos observando os coletores em sua lida noturna. Fazia frio, chovia e eles lá, não apenas faziam seu serviço numa boa - muito bem feito, por sinal - como brincavam uns com os outros, riam, no maior bom humor.
Aqui em Friburgo, pelo menos, é assim. Não sei qual o segredo, o que pode levar alguém a ficar horas correndo atrás de um caminhão recolhendo sacolas de lixo deixadas nas esquinas, nos portões, nas calçadas sem perder o bom humor. Sei que a empresa onde trabalham tem um programa de ginástica laboral para prepará-los para o batente. Afinal, é preciso um baita esforço físico para dar conta do recado. Mas isso só não basta para explicar o alto astral dos rapazes. O salário não pode ser estas coisas. Eles me lembram os varredores do Sambódromo no carnaval. Mas lá é um dia ou dois. Aqui é o tempo todo, debaixo de chuva e, muitas vezes, enfrentando um frio daqueles.
E a gente ainda reclama da vida...





Imagens de Vik Muniz


sexta-feira, 5 de março de 2010

Don't let it die


Meu primo Ricardo El-Jaick me enviou um e-mail com este vídeo. Impressionante como Hurricane Smith, há 40 anos, já antevia o que iriam fazer com o mundo. Esta música - Don't let it die - com uma melodia maravilhosa, já animou muitos bailes na década de 40, mas quase ninguém entendia o que Hurricane Smith estava cantando com sua voz rouca. Reparem a letra.

"Não deixe morrer
Ao lado da montanha, a flor cresce
À margem do rio onde a água brota para sempre
O mistério da vida na floresta
A longa e graciosa história da vida

Não deixe isso morrer
Não deixe isso morrer
A liberdade do tigre
Do canguru
Depende de mim
e depende de você

O que vemos é o que escolhemos
O que mantemos ou perdemos para sempre
O mundo é nosso para chorar por ele
Mas e se é tarde demais para remomeçar?

Não deixe isso morrer
Não deixe isso morrer
Ou diga adeus - amém

Não deixe isso morrer
Não deixe isso morrer
Ou diga adeus no fim".



quinta-feira, 4 de março de 2010

Bispo quer mesmo ser jornalista. Não é piada!!!


Está lá no Observatório da Imprensa. O bispo-empresário Edir Macedo quer ter sua carteirinha de jornalista. Já há muito tempo que ele vem tentando, não sei porque. Em algum momento conseguiu na justiça o registro de colaborador e, no ano passado, depois que caiu a obrigatoriedade do diploma, apelou de novo e um desembargador deu ganho de causa à sua ação.

Seu objetivo é se associar a um sindicato sério (o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro), composto exclusivamente por trabalhadores. Sem nenhum juízo de valor, como bem o disse o Dines, o bispo que é patrão, não tem nenhum direito de se associar a um sindicato que defende o direito dos empregados, ora bolas.