quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Último post do ano


Queria que o último registro deste dezembro de 2009 fosse especial. Mas sem essa de retrospectiva, listinhas, promessas ou projetos para 2010. Mas, como aqui o dia foi igual a qualquer outro, o post também nada vai ter de especial. Mas também não vai ter lugar comum. Tem Receita de ano novo em tudo quanto é blog do pedaço!
Faxina de papeis na redação, proposta por mim mesma e faxina de fim de ano também em casa. Jogo quilos de papeis e coisas fora, deleto tudo que já não me serve no computador. Quero deixar as coisas limpas e abertas para o novo ano. Funciona melhor que qualquer simpatia.
Vamos passar o reveillon do jeito que eu queria. Talvez um pouco íntimo demais da conta, porque as meninas debandaram, o que é muito natural. Mas nenhum programa por aqui me motivou o suficiente para sair do sossego do meu lar... Estamos sozinhos, D e eu, ou melhor, nós e o Lucky, o novo mascote da família. Afinal, avós e "bisavós" servem também para estas coisas.
Não vou fazer ceia nem enfeitar a casa. Mas temos um Pro Seco bem gelado na geladeira e um monte de coisinhas gostosas para comer, está ótimo. No mais, apesar da gente saber que os dias não param nunca, que reveillon é só uma convenção, uma fantasia, todo dia 31 a gente dá uma parada, pensa no que fez e no que não fez, no que aconteceu de bom e de ruim. Num rápido balanço, constato que não tenho do que reclamar de 2009, muito pelo contrário. O saldo foi positivo, em todos os aspectos.
E, querem saber, no que diz respeito ao Brasil também. Que me perdoem os pessimistas de plantão, mas acho que o país melhorou. Por este motivo, acabei discordando a manchete da última edição do jornal – “2009: Enfim, sobrevivemos”. Na minha opinião, 2009 não foi um ano ruim, pelo menos para o Brasil. Teve início com o prenúncio de uma crise sem paralelos na economia, o que, convenhamos, não aconteceu, não tivemos grandes catástrofes além daquelas com as quais já convivemos. Não que estas não devam ser eliminadas, nada disso, mas de tentar ver as coisas de um ângulo mais positivo. Principalmente em se tratando de uma edição que se propõe especial, até certo ponto,festiva, por ser a última do ano. A dita cuja manchete só se justificaria se dissesse respeito especificamente a Nova Friburgo, o que não era o caso, como se pode ver no texto, mas perdi, fui voto vencido, paciência.
Bem, faltam poucas horas para 2010. Vou tomar um banho demorado, me perfumar, me preparar para a virada. Do jeito que estou encaro até passagem de ano de Copacabana pela televisão. Melhor assim que passar o Reveillon dormindo, deprimida, como fiz questão de passar no ano passado! E, pior, sem nenhum motivo para tal!



Imagem de Doris Rapp

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Heloisa Buarque de Holanda e as memórias de toda uma geração

Acabo de saber que Heloisa Buarque de Holanda lançou um livro de memórias, Escolhas (Editora Língua Geral), uma mistura de autobiografia e ensaio, que vem acompanhada de nomes e fatos importantes do pensamento e da arte do século XX.

Conheci Heloisa na produtora-estúdio do Wambier, a Timbre, em Botafogo. Eles estavam, na época, junto com Chico Chaves, Chacal, Macalé e outros que não me lembro agora, envolvidos com um projeto de gravação de poesia marginal e um programa na Rádio Roquette Pinto.

Heloisa era a líder natural daquela turma que representava a vanguarda da contracultura naquele momento e marcou presença nos acontecimentos culturais importantes do país durante todos estes anos. Viveu intensamente os sonhos e a utopia dos anos 60, mas não parou por aí, como tantos. Hoje em dia, por exemplo, está de namoro firme com autores e artistas da periferia com os quais se comunica diariamente, trocando informações e ideias. E também com a internet, à frente do Portal Literal e da antologia digital Enter. Sempre a mil por hora, é a também é a headhunter da editora Aeroplano, que tem um catálogo realmente sensacional.

Na abertura do Enter, tem um texto sensacional onde ela fala sobre o impacto da Internet e das redes sociais, a disseminação de seu uso, inclusive por parte dos escritores. Ela também fala da popularização das tecnologias digitais atribuindo a ela o volume da produção poética atual. Saudando não só a quantidade como a qualidade da poesia atual, ela convida os leitores a “fazer o rito de passagem”, ou seja, a “entrar em outra lógica da percepção, experimentar novas relações com a palavra, com a comunidade de autores, com as idiossincrasias e paixões da vida literária na web”. Vale a pena visitar o Enter. Mais um para a minha lista de Favoritos.

Sempre achei Heloisa Buarque o máximo. O tipo de mulher que me atrai, por ser culta, inteligente, sofisticada, mas sem afetação e muito, muito segura de si. E vejam como está bonita aos 70 anos! Taí uma pessoa que tem, sem dúvida, muitas histórias para contar.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Amor na maturidade


Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 26 de dezembro de 2009

Tempo Perdido




Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo...

Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder...

Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo
E tão sério
E Selvagem! Selvagem!
Selvagem!...

Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos...

Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo...

Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens...

Tão jovens! Tão jovens!...


(Renato Russo)


Imagens de Duy Huynh

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Fim de festa

Mais um Natal e aniversário terminam. Deprimir não deprimi, mas estive à beira de um ataque de nervos em vários momentos nos três últimos dias. Hoje, por exemplo, só parei agora, 22h30. Mas tive um Natal maravilhoso e um aniversário, idem. Já comecei o dia ganhando uma linda orquídea da Ana Borges, todo mundo se lembrou de ligar e passar e-mails pra mim. Ganhei lindos presentes de minhas filhas e de D, que me deu um notebool poderoso, de 13 polegadas, do jeito que eu queria e que vai ser só meu, para eu levar pra todo lugar, nem acredito...E Alice ganhou do vovô esta coisinha fofa, um Westie de 40 dias, que já conquistou toda a família.



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Quase Natal



Véspera de Natal e de meu aniversário. Em casa, reina o caos total, com filhote de cachorro fazendo cocô e xixi no tapete e em todo lugar, cozinheira preparando ceia e empregada nova com neném de dois meses a tiracolo. Para mim, chega. Não quero saber mais de shoppings nem de lojas. Ontem encarei até supermercado e foi pauleira no jornal. Saí no final da tarde com a Ana para um café e para terminar as compras. Dei de cara com o atelier da Dani Deslandes fechado, onde eu ia comprar os presentes que faltavam. Procurei uma loja mais vazia e pronto, resolvi tudo de uma tacada só. Juro que no ano que vem vou comprar tudo cedo, igual a minha irmã, que mal termina um Natal já começa a pensar no próximo.

Não sei como nem porque mas ainda não surtei nem deprimi. Todo final de ano eu deprimo, é impressionante, já fico até esperando. Passei por aqui rapidinho, como tenho feito, aliás, já há algum tempo, desculpem. Sou só eu providenciando tudo, cuidando de tudo. Então, fica difícil. Queria muito ser cuidada por alguém, mas só por algum tempo para ver como é.

Estou fazendo tudo para ficar calma, mas tem horas que não dá... Pior que atualmente não tem nem novela para me acalmar porque desisti de acompanhar Viver a vida, só assisto de vez em quando e assim mesmo, fazendo outra coisa. Para mim, ela a novela mais chata de todos os tempos. Só quem se salva mesmo é a Lília Cabral. Não, Alinne Moraes, surpreendentemente, está dando um show. E tem o Maradona, adoro, quem é o ator, em? A novela até que tem bons atores, sim, reconheço. O problema é mesmo do enredo, da trama, que é ruim, cheio de chavões, de lugares comuns. Sem falar que é um tremendo de um dramalhão.

Meu relax e meu prazer neste ano que está quase terminando foi, com certeza, este blog. Um vício positivo que vem me trazendo um enorme aprendizado e uma interação preciosa. Cris V me toma um tempo precioso mas me rende uma gratificação muito grande também. Através dela ingressei num mundo intensamente atraente sob todos os pontos de vista que me faz esquecer da vida. Só tem um problema. Há que se ter uma enorme disciplina. Por falar nisso...

Fui!!!!!!!!!!!!!!! Até amanhã e Feliz Natal!


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Cris V é dez!!!









Viva nós!!!!!!!!!! Cris V conquistou o prêmio Zuenir Ventura na categoria mídia eletrônica como o melhor blog 2009, no Melhores da Imprensa 2009 promovido pela Associação Friburguense de Imprensa. Além disso, faturei o de melhor reportagem com a matéria "Avenida Alberto Braune pede socorro", publicada em A Voz da Serra. Para completar, nossa amiga aqui do blog, Ana Borges, ganhou como melhor editora de revista e melhor revista. A Cris V aqui, o jornal A Voz da Serra e a Valentina arrasaram!

Como não podia deixar de ser, o primo e mestre Zu, aquela gracinha de sempre, prestigiou o evento e aproveitou para rever a família. No final da cerimônia, enalteceu a garra dos colegas que fazem jornalismo no interior. “Fazer jornalismo nos grandes centros é fácil. Leia a reportagem de Henrique Amorim completa no site da AVS.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Os mais invisíveis de todos


No post anterior esqueci de falar na população de rua e nos mendigos. Tão invisíveis são que até nos esquecemos deles quando abordamos a invisibilidade...Só me dei conta deste meu ato falho assisindo à reprise do Globo Repórter pela Globo News hoje de manhã. Detesto o tom deste programa, aquela edição antiga e até a linda voz do Sérgio Chapelin e a maioria dos assuntos abordados.
Mas, de vez em quando, o Globo Repórter acerta a mão. Foi o caso deste ultimo programa, que mostrou belísimas histórias de superação. Uma delas foi de um morador de rua que hoje faz faculdade, etc e tal. Teve uma outra, de um engenheiro que, na infância, catava lixo na rua para ajudar a mãe e que havia sido entrevistado pelo Globo Repórter quando era criança numa matéria sobre trabalho infantil.
Ambos tocaram na questão da invisibilidade. “As pessoas passam por nós sem nos ver”, disse um deles. E é verdade. Eles estão ali, na nossa frente, debaixo dos viadutos, das marquises, nos coretos, alguns com a mão estendida, a gente só falta tropeçar neles, mas não vê. Ou finge que não vê.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Invisibilidade




Nunca esqueci de um artigo de Carmen da Silva onde ela contava que a partir de um certo momento da vida começou a sentir a estranha sensação de ter se tornado invisível para os homens. Taí um tema que dá o que pensar.

De um lado, a invisibilidade. Do outro, o excesso de visibilidade. Quando Madonna esteve no Brasil, os funcionários do hotel onde ela se hospedou eram proibidos de lhe dirigir o olhar. Não sei até que ponto isso é só frescurice de celebridade. Realmente deve ser terrível ser olhada o tempo todo, por todo mundo.

Mas estou tratando hoje aqui da invisibilidade, prima-irmã da indiferença. Comecei a sentir seus sinais lá pelos 40. De uma forma sutil, mas perceptível. Deixei de ser chamada de "gostosa" quando passava perto de uma obra ou de uma oficina mecânica, por exemplo. Minha sorte é que continuo sendo visível para quem de fato me interessa ou poderia vir a me interessar.

Sim, porque a idade é um dos principais passaportes para a invisibilidade. Assim como a gravidez, a obesidade, a magreza excessiva, a feiura, enfim, todas que fobem aos padrões estabelecidos.
Será que os homens também ficam invisíveis? Taí uma coisa que eu gostaria de saber. Talvez (eles é que não vão contar...), mas com certeza, beeeeeeeeeeeem mais tarde do que nós e só se for duro. Se tiver grana, com certeza será visto não apenas pelas mulheres, mas pela sociedade.

As gravuras que Liana, do Ignnácia, colocou no alto do post, de um artista japonês que se mistura a sua obra, ficaram perfeitas. Quem me acompanha sabe que já há algumas semanas, ela tornou-se minha parceira aqui deste blog, enriquecendo-o com as belíssimas imagens. Foi um processo informal, não combinado, mas que certamente tornou a Cris V muito mais legal, não acham?

Outro dia li um artigo na Isto É sobre o livro Homens Invisíveis – Relatos de uma Humilhação Social (Globo), de um psicólogo da USP, Fernando Braga da Costa, que resultou de um trabalho do tempo de faculdade. Um professor de Psicologia Social propôs aos alunos que assumissem, durante um dia, uma profissão exercida por pessoas mais pobres. Fernando escolheu a de gari e se surpreendeu por não ser reconhecido pelos colegas ou professores. Ninguém sequer olhava para ele. “Como gari, senti na pele o que é um trabalho degradante”, disse ele. No livro, ele desenvolve uma tese interessante, a da “invisibilidade pública”. O nome diz tudo. Os garis, faxineiros,serventes, ascensoristas, empacotadores de supermercado, os motoboys, todos eles não costumam ser “vistos” pela sociedade. Deve ser horrível.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Uma chuva forte vai cair


A hard rain's a gonna fall faz parte do álbus Bob Dylan Live 1975. Observem como a letra é pertinente. Para quem prefere, a tradução está abaixo.

Oh, where have you been, my blue-eyed son?
Oh, where have you been, my darling young one?
I've stumbled on the side of twelve misty mountains,
I've walked and I've crawled on six crooked highways,
I've stepped in the middle of seven sad forests,
I've been out in front of a dozen dead oceans,
I've been ten thousand miles in the mouth of a graveyard,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, and it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.

Oh, what did you see, my blue-eyed son?
Oh, what did you see, my darling young one?
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it,
I saw a black branch with blood that kept drippin',
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin',
I saw a white ladder all covered with water,
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken,
I saw guns and sharp swords in the hands of young children,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.

And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder, it roared out a warnin',
Heard the roar of a wave that could drown the whole world,
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin',
Heard ten thousand whisperin' and nobody listenin',
Heard one person starve, I heard many people laughin',
Heard the song of a poet who died in the gutter,
Heard the sound of a clown who cried in the alley,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.

Oh, who did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony,
I met a white man who walked a black dog,
I met a young woman whose body was burning,
I met a young girl, she gave me a rainbow,
I met one man who was wounded in love,
I met another man who was wounded with hatred,
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard,
It's a hard rain's a-gonna fall.

Oh, what'll you do now, my blue-eyed son?
Oh, what'll you do now, my darling young one?
I'm a-goin' back out 'fore the rain starts a-fallin',
I'll walk to the depths of the deepest black forest,
Where the people are many and their hands are all empty,
Where the pellets of poison are flooding their waters,
Where the home in the valley meets the damp dirty prison,
Where the executioner's face is always well hidden,
Where hunger is ugly, where souls are forgotten,
Where black is the color, where none is the number,
And I'll tell it and think it and speak it and breathe it,
And reflect it from the mountain so all souls can see it,
Then I'll stand on the ocean until I start sinkin',
But I'll know my song well before I start singin',
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard,
It's a hard rain's a-gonna fall.

Aqui, a tradução
Uma chuva forte vai cair

Oh, onde você esteve meu filho de olhos azuis?
Oh, onde você esteve, meu jovem querido?
Tropecei ao lado de doze montanhas nebulosas
Eu andei e engatinhei em seis estradas tortuosas

Eu pisei no meio de sete florestas tristonhas
Entrei e saí da frente de uma dúzia de oceanos mortos
Estive dez mil milhas
Na boca de uma sepultura
E é uma forte, é uma forte
É uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair

Oh, o que você viu, meu filho de olhos azuis?
Oh, o que você viu, meu jovem querido?
Eu vi um bebê recém nascido
Com lobos selvagens lhe rondando
Eu vi uma estrada de diamantes sem ninguém sobre ela
Eu vi um galho negro com sangue que pingava
Eu vi um quarto cheio de homens
Com seus martelos sangrando
Eu vi uma escada branca toda coberta de água
Eu vi dez mil oradores
Cujas línguas estavam dilaceradas
Eu vi armas e espadas afiadas
Nas mãos de crianças pequenas
E é uma forte, é uma forte, é uma forte, é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair

E o que foi que você ouviu meu filho de olhos azuis?
E o que foi que você ouviu meu jovem querido?
Eu ouvi o som do trovão
E seu estrondo era um aviso
Ouvi o ronco de uma onda
Que poderia afogar o mundo inteiro
Ouvi mil bateristas
Cujas mãos estavam em brasa
Ouvi dez mil sussurrando e ninguém estava ouvindo
Ouvi uma pessoa morrer de fome
Ouvi muitos rindo
Ouvi a canção de um poeta que morreu na sarjeta
Ouvi o som de um palhaço que chorava no beco
E é uma forte, é uma forte
É uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair

Oh, quem você encontrou meu filho de olhos azuis?
Quem foi que você encontrou meu jovem querido?
Eu encontrei uma criança jovem ao lado de um potro morto
Encontrei um homem branco
Que passeava com um cachorro preto
Encontrei uma jovem mulher cujo corpo estava queimando
Eu encontrei uma jovem menina, ela me deu um arco-íris
Eu encontrei um homem que estava ferido no amor
Eu encontrei um outro homem que estava ferido em ódio
E é uma forte, é uma forte
É uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair

Oh, o que farás agora, meu filho de olhos azuis?
Oh, o que farás agora, meu jovem querido?
Vou voltar lá pra fora antes que a chuva comece a cair
Vou andar até as profundezas da mais negra floresta
Onde o povo é tamanho
E suas mãos são vazias

Onde as cápsulas de veneno estão afogando suas águas
Onde o lar no vale
Encontra a prisão úmida e suja
Onde o rosto do executor está sempre bem escondido
Onde a fome é feia, onde as almas são esquecidas
Onde preto é a cor, onde nada é o número
E eu posso contá-lo e pensa-lo e dize-lo e respira-lo
E refleti-lo das montanhas
Para que todas as almas possam vê-lo
Então ficarei em pé sobre o oceano até começar a afundar
Mas eu conhecerei minha canção bem
Antes de começar a canta-la
E é uma forte, é uma forte, é uma forte, e é uma forte
E é uma forte chuva que vai cair



Muito blábláblá para nada



Pelo andar da carruagem, a Conferência do Clima de Copenhage não vai dar em nada. Os participantes, especialmente, os Estados Unidos, China, Índia e Brasil não conseguem se entender no que diz respeito à redução de emissões de gases do efeito estufa.
A meu ver, as resoluções ali tomadas têm sido muito tímidas e o documento final vai no mesmo caminho. O clima fica cada vez mais aquecido, mas os compromissos assumidos pelos governos são mornos, quase frios. Preocupante.
Mestre Zu discorreu brilhantemente sobre o tema em O Globo. Se não leu, leia aqui.




quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De livros e leituras



Tenho lido poucos livros e isso me angustia. Estou com saudade dos meus livros. Como eu e D somos ratos de livraria e não resistimos a um livro, tem um monte na fila, a mesinha de cabeceira está que não ao cabe mais nada, que nervoso. Quando é que vou ter tempo de ler isso tudo, em? Acho que só se fizesse um cruzeiro ou passasse meses sem internet, sem televisão e sem companhia. Mas quem tem hábito de ler, como eu, não vive sem um livro por perto, não dorme sem ler nem que seja uma página e se delicia só com a perspectiva de passar uma tarde mergulhada em literatura.

Durante muitos e muitos anos, no período de vacas muito magras, graças a Belkiss e ao Antônio, da U-tópicos Fractais, pude continuar lendo a maioria dos livros que eu queria. Já há mais de 15 anos, eles têm uma locadora de livros, que funciona de modo semelhante a uma locadora de filmes aqui em Friburgo. O sistema deu certo justamente porque eles estão sempre investindo, compram nem que seja, três, quatro livros por mês e, com isso, conseguem manter um acervo bem atualizado.

Gosto de passar a mão nas páginas dos livros para sentir a textura. Gosto também de cheirar livro novo, a primeira coisa que faço quando compro um livro é cheirar.

Empresto livros numa boa. Se devolverem, ótimo. Se não, tudo bem também. Mas não gosto de ler livro emprestado. Porque leio muito deitada e dobro a lombada, o que acaba com meus livros. Também sou do tipo que faz orelhas nas páginas. Tanto para saber onde eu parei como para marcar páginas onde tinha alguma coisa que me chamou a atenção. Detesto marcadores de livros, quer dizer, são bonitinhos, alguns até guardo, mas só para enfeitar, depois que acabo de ler. Nunca usei.

Risco, marco, comento... Meus livros são todos marcados.

Sempre estou lendo um livro. E só um. Tem gente que lê vários de uma vez, eu nunca consegui. Fico tomada pelo enredo, pela história, de uma forma muito intensa, para dividir minha atenção.

Por falar em ficar tomada, já se foi o tempo em que insistia num livro sem estar gostando ou melhor, sem ter mergulhado nele. Hoje em dia, desisto com a maior facilidade. Não tenho tempo para perder. Agora retornei para A louca da casa. Não sou muito de leituras recorrentes, mas tem uns livros que me pegam pelo pé, como este. Aliás, acho que é por isso que não tenho muito apego ao objeto livro. Curto muito enquanto leio, fico literalmente apaixonada por cada um deles, mas depois que terminam, guardo num lugar qualquer do meu coração e já me encontro de novo envolvida com um novo amor. É por isso que quando um livro maravilhoso está acabando, começo a economizar, a ler em conta-gotas.

Com raras exceções, esqueço rapidamente a história de todos os livros que li só uma vez. O livro que li mais vezes foi, sei lá, acho que foi Reinações de Narizinho e Viagem ao céu, aliás, toda aquela coleção de capa verde de Monteiro Lobato.

Poesia é um caso à parte. Obras Completas, de Fernando Pessoa, está sempre ao meu lado, há anos. Mas fico meses sem ler e depois, mudo de poeta. Agora, com os blogs de poesia (de modo especial, o Poemarte e Terra de Esperança), quase não tenho tocado nos livros.

A cama é o lugar onde mais gosto de ler. Mas ler também é a melhor coisa a fazer quando se espera por alguém ou por alguma coisa. Por isso mesmo, levo sempre um livro na bolsa. Acho que é por causa disso que adoro edições de bolso (desde que sejam caprichadas).

A capa me influencia demais na hora de comprar. Já comprei livro pela capa. Sempre procuro saber quem fez e também quem traduziu. Já títulos não mexem tanto comigo, a não ser quando são realmente geniais.

Agora, não resisto mesmo a uma biografia. Acho que é meu gênero preferido.

Gosto de livros bonitos, como os de papel amanteigados da Cia das Letras. Não sou muito de frequentar sebos, mas desde que entrei a primeira vez na Estante Virtual virei cliente. É prático demais e baratíssimo.

Adoro dar livros de presente. É prático, até certo ponto, um presente barato, marcante, com personalidade. Mas sempre tenho medo de não agradar e sei que isso muitas vezes acontece. Fico impressionada com pessoas que não gostam de ler, que não sentem prazer com a leitura. Elas perdem uma parte muito interessante da vida.

Amo dedicatórias, bem pessoais, bem informais, do fundo do coração mesmo. Nada a ver aquele cartãozinho junto com o presente, como mandam as regras de etiqueta.

Que coisa mais charmosa é homem lendo, já reparou? Preste atenção da próxima vez que for a uma livraria, como eles ficam lindos tomando um café e com um livro nas mãos.

Aguardo ansiosamente a popularização do Kindle. Pode ser que eu me engane, mas acho que vou me adaptar perfeitamente.









Imagens de Tomasz Sętowski e Francine Van Hove

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Universo virtual





Participei do programa Ideias e Ideais, na TV Zoom, apresentado pela Janimary Pecci. Em pauta, o universo virtual. Foi um bate-papo agradável, que também contou com a coleguinha Scheila Santiago, do Cultura NF, entremeado por algumas entrevistas gravadas. Conversamos muito sobre blogs, twitter, orkut, facebook, sobre o tempo que se passa (recuso-me a dizer 'que se perde'), a democratização da rede, enfim, sobre este fascinante mundo virtual que, felizmente, estou tendo a oportunidade de conhecer (sempre penso nisso, quando lembro de como era limitada a vida antes da internet). E ainda havia muito mais para conversar quando o programa chegou ao fim, que pena...




segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

De bem com a vida







Chove lá fora. O dia está cinzento e frio, mas eu começo a semana de alto astral. Feliz da vida, hoje vou sair de vermelho e preto, em homenagem ao Mengão. Mas estou assim nem foi por causa da vitória do time mais popular do país, não, que nem tão ligada sou a futebol.

Já na manhã de ontem havia tomado a decisão de não me deixar mais contagiar pelo baixo astral que tem me invadido mal tomo conhecimento das noticias do dia. Claro que vou continuar me indignando com as falcatruas, os roubos, a corrupção, os jogos do poder, assim como com a violência, a homofobia, a discriminação ou o disse-me-disse e as mediocridades aqui da província.

Mas não vou deixar que nada disso me atinja mais. Estou blindada, protegida. Como? Deixando que a beleza, a poesia e a música me invadam, permanentemente. Reservando espaço na agenda para mergulhar nestes oceanos. Funciona. Ontem me senti leve e alegre o dia inteiro. Passei a manhã ouvindo poesia em forma de música, um CD com poemas musicados de Fernando Pessoa, nas vozes de nomes como Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Elba Ramalho, tem um até gravado por Elizeth Cardoso.
Depois, mergulhei em Budapeste, de Walter Carvalho, um filme denso, sensível, delicado. Só não consegue ser mesmo melhor que o livro, aliás, acho que nenhum filme consegue. Mas aquele lance de escrever no corpo das mulheres é mesmo extremamente sensual. Pode ser só porque foi narrado pelo Chico, que é o maior símbolo sexual de todas nós, mas de qualquer forma, é lindo demais, faz bem à alma.

Mudança de registro. Futebol. Quanta emoção, quanta adrenalina e...
Vitória do Mengo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O que eu mais gosto, quando o Flamengo ganha, é ver a festa da torcida, acho que nenhuma supera a do Flamengo em paixão.

Para completar, teve o show da Madonna no Multishow. Mais de duas horas. Foi o espetáculo que ela fez em Buenos Aires, uma loucura de lindo. Os argentinos são loucos por Madonna, principalmente depois que ela interpretou Evita no cinema. Quando ela canta “Don’t cry for me, Argentina”, então, a plateia delira, chora, vai, literalmente à loucura. Adoro a Madonna, gente, uma paixão que aumenta a cada dia, a cada show, a cada aparição dela.

Um sol tímido começa a se esboçar, parece que o tempo vai abrir, melhor assim. Chuva demais aqui em Friburgo sempre preocupa.Já marquei minha massagem que me deixa novinha em folha e nunca tenho tempo de fazer. E hoje estarei às 21h na TV Zoom (canal 10 da RCA TV) dando uma entrevista sobre blogs, twitter e coisa e tal no programa Ideias e Ideais, mais conhecido como o "programa da Janimary".

Imagem de Mary Jane Ansell






sábado, 5 de dezembro de 2009

O lastimável artigo de César Benjamim




Como se não bastassem os vídeos de Brasília e as declarações lamentáveis que sucederam a divulgação dos mesmos, a semana teve o caso Benjamim. Até hoje não digeri aquele artigo publicado na página de Opinião da Folha de São Paulo e assinado por César Benjamim, com ataques pessoais a Lula.
“Os filhos do Brasil” é recheado de mentiras e maledicências, com insinuações - sem o menor fundamento - de que Lula teria tentado estuprar um companheiro de cela, quando esteve preso, durante a ditadura. Uma denúncia grave, absurda e, o que é pior, mentirosa, contra o presidente da república e que foi desmentida até por quem Benjamin afirma ter testemunhado o “acontecimento”. Lula disse não entender o motivo do ataque e classificou como “loucura” o episódio narrado no artigo.
O que pode ter acontecido com o Cezinha para ele cometer tal irresponsabilidade? Eu o conheci há anos, daquela turma de exilados que voltavam ao país e passavam lá por casa. Sua fama era a de ser narcisista ao extremo (um "mala") e de provocar rachas por onde passava. De lá para cá, de vez em quando leio um artigo dele na Folha, sempre meio radical demais, aquele discurso de esquerda que parou no tempo. Agora, porém, ele pirou. Não pode nem ser chamado de ridículo, porque o que ele fez foi grave.
César Benjamim perdeu uma excelente oportunidade de ficar quieto. Ele não podia fazer uma denúncia tão bombástica e já tendo se passado tanto tempo do ocorrido sem ter um só testemunha a seu favor. O governo disse que não vai responder e faz bem, tem certas bobagens que é melhor mesmo deixar quieto, ignorar. Até porque a Folha agiu como principiante, se quis atingir Lula, não conseguiu. Assim como eu, muita gente, até quem não simpatiza com o presidente ou já se decepcionou por completo com ele, deve ter ficado solidária.
Como um jornal com a tradição da Folha de São Paulo foi se prestar a isso, em? O Cezinha pirar dá até para entender, mas a Folha embarcar nessa, foi má fé demais, além de muita, muita infantilidade. Lastimável até porque o episódio acaba resvalando sobre a imprensa como um todo, que é acusada de denuncismo barato, sensacionalista e por aí vai. Querendo criar um fato político desfavorável a Lula, a Folha transgrediu as mais elementares regras do jornalismo e da ética. Portanto, as tímidas desculpas de seu ombdsman não colam.





quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Diante dos vídeos de Brasília



Estou tomada por uma sensação de desalento que, de uma certa forma, vem paralisando minha mente e tem até me afastado aqui do blog. Sabe quando a gente fica achando que nada vale a pena, que nada faz sentido?

Mais precisamente, que não adianta denunciar, criticar, brigar? Sinto-me em estado de choque diante dos vídeos de Brasília, cada um mais torpe e vergonhoso que o outro, das declarações de Lula sobre o episódio envolvendo José Roberto Arruda, afirmando que “os vídeos não falam por si”, do noticiário que passa a impressão, eu diria mesmo, a certeza, de que nada vale a pena, que mais uma vez tudo vai acabar em pizza.

Desanima constatar as ameaças e acusações de uns contra os outros, imaginar os acertos e acordos que já estão sendo articulados e fechados na capital. A sensação de que o poder sempre estará nas mãos de políticos safados e corruptos, de lobistas, de curriolas é paralisante.
Enfim, tudo o que tem vindo à tona desde sexta-feira é muito triste. Mas, por incrível que pareça, não tem mais me surpreendido nem revoltado nho me sentido , eu diria, revoltante. O problema é que este sentimento de revolta parece ter me abandonado e é isso que me apavora. Prefiro mil vezes a indignação que o conformismo. E não estou mais me sentindo indignada. Chocada, sim, mas não indignada, revoltada.

O desalento, este sentimento deplorável, tira da gente o que temos de melhor, justamente por nos impelir para a frente: o interesse pelos desafios. Traz em si algo abominável em sua própria essência, a falta de expectativas e, mais ainda, de perspectivas. Em uma palavra, a possibilidade de vislumbrar um futuro melhor para o nosso país. Uma tristeza.






Imagens de Stefano Bonazzi e Platinum Image Conception Studio

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Marcelo Tas falou e disse



Marcelo Tas é um gênio, eu acho. Vejam algumas sábias palavras ditas por ele durante palestra sobre internet e redes sociais no Uni-BH.

“A internet revolucionou o modo como o homem se relaciona com o mundo. Hoje, todos nós somos produtores de conteúdo. A internet que, até bem pouco tempo atrás era usada apenas para produzir, agora está também sendo usada para dar ouvidos às vozes da sociedade”.

“Estamos com uma oportunidade de ouro de participar dessa revolução midiática e fazer parte dela de forma mais ativa, e não só como espectadores. Podemos conversar com várias pessoas ao redor do mundo em tempo real e criar uma rede de contatos única. Qual geração teve isso? A nossa. Pessoas mobilizam umas as outras e criam comunidades de troca de conteúdo. E a tendência é evoluir cada vez mais...”

“Não dependemos mais do outro para receber informação, pois ela está a um clique do que queremos. Temos espaço para falar, ouvir e ser ouvido. O Jornalismo está mais perto do público e o jornalista não depende mais de um veículo de comunicação para produzir conteúdo”.

"O Twitter vai matar o jornalismo covarde".

Poesia: remédio para desacelerar o tempo



Do livro de William Bonner. "A poesia foi feita, entre outras coisas, para desacelerar o tempo".

Já sei, vou mergulhar no acervo do Terra de Esperança, o blog da Liana e me embebedar de poesia.


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ó dia, ó céu, ó vida, ó azar



Ando num mau humor que dói. Rabugenta, reclamona, um saco, nem eu estou me aguentando. Tudo me irrita. Estou insuportável. O motivo? Vai lá saber. Não sei como é com você, mas eu não preciso de motivo para ficar azeda. Às vezes dá até para ter uma noção do que desencadeou o processo – geralmente coisa pequena e contornável – mas nem sempre.

Tem dias que a gente simplesmente acorda se sentindo assim.

Sim, eu sei perfeitamente. Conviver com uma pessoa mau humorada é difícil e muito, muito desagradável. Parente direto da depressão, o mau humor faz com que a gente só enxergue o lado negativo das coisas e, de uma certa forma, podemos dizer que é contagioso. Também reconheço, humildemente, que nós, mulheres, somos bem difíceis de entender, sujeitas a mudanças bruscas de humor e a acessos de mau humor aparentemente sem motivo.
Mas, vamos combinar. Nossas rotinas diárias e o volume de trabalho, afazeres, compromissos e preocupações a que somos submetidas têm mais é que nos tirar mesmo o bom humor. Pelo menos de vez em quando. Quase todos os dias somos obrigadas a lidar com situações extremamente estressantes, a ponto de não conseguirmos nos desligar para um merecido descanso.
Vivemos equilibrando pratos, somos o fiel da balança da família. Isso cansa.
Então, diante de toda esta carga, não tem jeito. Tem dias que fica mesmo muito difícil manter o alto astral, dar a volta por cima e retomar o necessário bom humor para seguir em frente.