sábado, 12 de setembro de 2009

Depois me digam se o Rio não é mais o Rio...

O Rio que pensa, dança e fala
Zuenir Ventura
É daqueles eventos que, quando a gente assiste em Nova York ou Paris, lamenta: "Por que não se faz isso no Rio?" Quando se faz, valem todos os louvores. A fórmula é simples e criativa. Pega-se uma gare de trem desativada e transforma-se num museu, como foi feito com o majestoso Musée d'Orsay, que reúne talvez a melhor coleção de impressionistas do mundo. Ou então como se acaba de fazer, mais modestamente, com a velha estação da Leopoldina, transformada por três dias pelo Back2Black numa pequena África. Quem não viu não sabe o que perdeu.
O espaço, por si só, já era um espetáculo. Um vagão forrado de panos com motivos africanos serviu, por exemplo, de livraria. As antigas plataformas de embarque viraram pistas de dança e terraços com mesinhas de bar. Sucatas de máquinas de trem foram recriadas como esculturas, graças a um jogo mágico de luzes coloridas. Enfim, com recursos cenográficos como estes, além de fotos, mapas, textos distribuídos pelo espaço, Bia Lessa - e quem mais poderia ser? - fez da estação da Leopoldina uma instalação capaz de acolher a proposta "Somos todos Africanos. Somos todos humanos. Back to Black".
Isso quanto ao décor, pois em matéria de conteúdo não sei se alguma vez se juntou aqui um elenco tão expressivo de nomes da música, da dança, da literatura, do pensamento do Brasil e de várias partes do mundo - África do Sul, Angola, Senegal, Zâmbia, Cuba, EUA, Benin, Cabo Verde - para cantar o continente africano e debater suas questões.Estive no encerramento, junto com uma multidão, para assistir ao show "Celebração do samba", conduzido por Mart'nalia e apresentando nomes como Luiz Melodia, Margareth Menezes, Dona Ivone Lara, além da beninense Angelique Kidjo, a cabo-verdiana Mayra Andrade e a cubana Omara Portuondo.Por dois momentos, já teria valido a pena a ida à Leopoldina: ver Dona Ivone cantando "Sonho meu" e Omara entoando "Guantanamera".
A esperança é que haja mais Back2Black e que se volte a ter a Leopoldina como espaço para outros eventos.O Rio não está se reunindo apenas para discutir a África. Primeiro foi a Casa do Saber, que já tem três anos e nada menos que 80 cursos programados para o segundo semestre. Depois surgiu o Polo Contemporâneo do Pensamento. Como universidades livres, ali se fala de tudo - de filosofia à física quântica, de arte à ciência. Agora há uma versão mais informal, uma espécie de Casa do Saber, a Oste-Rio. Num restaurante de Ipanema, há 17 segundas-feiras, o economista André Urani vem reunindo cabeças célebres ou anônimas interessadas no futuro do Rio. Na última sessão, o tema foi a revitalização do Porto, com a presença do secretário municipal de Urbanismo, Sergio Dias. A sessão funcionou como uma audiência pública.Detalhe: durante o bate-papo, come-se bem e bebese um bom vinho, a preços razoáveis.
Fonte: Jornal O Globo 02/09/09

Um comentário:

TIGRE DA NOITE disse...

Quando eu li sobre este evento, aqui no Rio, fiquei extasiado. A velha Leopoldina como palco de algo necessário, diga-se, cultural. Sim, pois está faltando cultura neste país, principalmente no mundo da música, com a invasão do besteirol musical de batidas sem nexo e ritmo duvidoso.