segunda-feira, 8 de junho de 2009

Lembrando Wambier

Wambier ao fundo durante entrevista de Prestes na PUC


Figurinha inesquecível e querida foi o Wambier. Professor, jornalista, radialista, foi também tradutor, locutor, apresentador de telejornais e documentários. Sem exagero, ele tinha uma das vozes mais bonitas do rádio, da TV e da publicidade. “Eterno menino do Rio”, como foi descrito pela jornalista Lenira Alcure (com quem também foi casado), Wambier era, realmente, o mais carioca dos cariocas.

Apesar de nunca ter deixado de cultivar suas raízes pontagrossenses, só poderia ter vivido feliz mesmo no Rio. Mais precisamente, em Ipanema, onde se sentia em casa. Acordava tarde, dormia tarde, estava sempre cercado de amigos e mulheres, adorava um pé sujo, conhecia tudo o que era pinguço da Lapa e das redondezas. Não perdia uma praia, sempre no final da tarde e, nos finais de semana, preparava almoços antológicos para nós e uma galera de agregados. Que eram muitos. Os fixos, que viviam como satélites a seu redor e a imensa legião de fãs e conhecidos que apareciam de vez em quando, que ele encontrava na rua, na praia, no bar, na redação, na faculdade e levava prá casa. A qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada.

Wambier era um maravilhoso contador de histórias e se divertia mais do que todos com elas. Sabia consertar tudo que é aparelho eletrônico e parecia sentir prazer em passar horas debruçado em válvulas e transistores. Filósofo por formação e por natureza, não suportou continuar no Brasil durante a ditadura e foi parar na Alemanha e na Suécia, onde passou quase dez anos.

Mas assim que a situação melhorou, tratou de voltar para a sua Ipanema e nem poderia ser diferente. Wambier adorava uma roda de samba, de chorinho, gostava de festa. Quando o astral baixava, era o primeiro a sugerir: “Que tal dar uma festa, em?” Não era difícil nem saía caro preparar alguns litros de caipirinha, umas pastinhas e espetinhos de carne para assar na churrasqueira. O chopp, a turma mais chegada rachava. E, mais uma vez, a cobertura da Lagoa se abria para uma multidão. Nunca tivemos problemas. Bons tempos aqueles.

Manoel Wambier era o pai de Leo, que rodou, rodou, mas voltou para Ponta Grossa, e de minhas filhas, Helena e Julia - 'as suas meninas', como ele sempre dizia - e morreu cedo demais, aos 50 anos. Durante a inauguração dos estúdios de rádio e TV da PUC (que, aliás, levam seu nome), Lenira fez um discurso belíssimo onde contou que antes de morrer, Wambier fez a seguinte confidência: “Pela primeira vez em minha vida, sinto que meu corpo é uma coisa e eu, sou outra." Hoje, dia 8, Wambier estaria completando 67 anos. Se fosse religiosa rezaria por ele em minhas preces. Saudades de você, Wambier.

9 comentários:

Helena disse...

Papai! Saudade...

Luiz Sergio Nacinovic disse...

Dalva!
No meu blog, em 19 de setembro de 2008, escrevi isso:

"Amigos- Amigos até o fim - Agora foi a vez do Lourenço Diaféria- um dos poucos cronistas com C maiúsculo que restavam na área. Lourenço foi capaz de me fazer comprar a “Folha” só para ler seu texto. Achava fantástico como as letrinhas percorriam o caminho que ele traçava num discurso que sempre me prendeu. Me sentia como lendo a carta de um amigo velho, daqueles que te escrevem prosa para contar a sua visão de um dia a dia pessoal e intransferível. Sempre existe o assunto e a impressão dele( o cronista) ser sempre compartilhável é digna de nota. Na maioria das vezes você se surpreende com a concordância de opiniões e pensamentos.
Fui assim com Dona Elsie Lessa, sou assim com o filho dela, sou assim com Sergio Jaguaribe e também fui desse jeito com Paulo Francis – a quem admirava sinceramente pela capacidade cultural. Só discordei bastante de Nelson Rodrigues, cujo pesamento tragicômico de um Emile Zolà nascido no Recife batia de frente com minha visão carioca de todo o universo.
Outro cronista fantástico com quem nunca tive acidentes de percurso pelas letrinhas é Osvaldo Peralva. Militante Comunista, escritor e jornalista, Peralva era da Diretoria do “Correio da Manhã” quando o golpe ocorreu.
Refugiado político durante algum tempo Peralva é o único cronista conhecido a escrever sobre um amigo meu e amigo comum nosso, talvez um dos poucos grandes amigos que tive durante toda a minha vida – Manoel Wambier.
Manoel, paranaense de Ponta Grossa e formado em Filosofia, foi uma das maiores figuras que eu conheci e capaz de grandes façanhas como trabalhar a noite inteira na Radio Globo e depois passar o dia inteiro na Rua Alice 133; ele e o irmão se casarem com duas irmãs; preparar uma sopa de lentilhas para chef germânico nenhum botar defeito, além de saber FAZER maionese. O apartamento que dividiu com Paulinho Diniz("Quero voltar pra Bahia"), de frente para a Praça General Osório ficou famoso na região.
Wambier era um achado nascido no lugar errado, pois vir ao mundo no paraná foi um mero acidente. Wambier era Ipanema da cabeça aos pés com aquela cara de bugre saído de quadro clássico de Almeida Junior.
A crônica de Peralva sobre Manoel falava de sua chegada à Alemanha e a sua gradual inserção no grupo que amargava o exílio. Falava no dia a dia de estranhos numa terra estranha e que se grilavam com a chegada de novidades que não tivessem um passado político recomendado, como era o caso do Manoel. Todos eram vistos como informantes da repressão e Manoel também passou por essa suspeita. Até que um dia viram que não era nada disso e, no final da crônica, Peralva dizia seu nome.
Telmo e a Dalva ainda devem ter esse recorte. O meu se perdeu numa das N mudanças de meus trastes. Fico aqui pensando em mais essa perda e também ruminando se alguém um dia vai se lembrar de mim desse jeito, num texto sem nenhum defeito".

Foi esse que o Leonardo leu. Beijão do Guerra

Anônimo disse...

Dalvinha, nem conheci o Wambier mas vc. o descreveu tão lindamente, q. até fiquei c/saudades dele tbém.
Ana Borges

Liana disse...

Saudades,Wambier.

Anônimo disse...

Dalva querida,
Belo texto e ainda mais saudades. Para a sua coleção de memórias: graças à generosidade do amigo Wambier, hoje tenho o privilégio de ser professor de jornalismo. Foi tudo idéia dele! E só posso agradecer.
Beijos para você e para toda a linda família
Antonio Brasil

Debora disse...

Ainda tao jovem e inexperiente, convivi bastante com Wambier, minha tia Dalva, vi
" suas meninas " nascerem e florescerem e participei de tantos momentos ao longo dos anos. Apesar da imaturidade pra desfrutar tanto brilhantismo e especialidade, lendo tudo isso sinto o calor no coracao de um profundo carinho e muitas saudades, Wambier! Que vc esteja bem abencoado:-)

Unknown disse...

Wambier nunca foi tio.....mesmo depois de "suas meninas" ou melhor minhas meninas tambem nascerem...Tambem nao foi padrinho de casamento, mesmo o meu namoro sido iniciado e vivido em sua casa.....Foi mestre!!!!!! Naturalmente, na Convivencia dos anos que vivi por ali acordando e dormindo e respirando e apreendendo tudo que podia....
Aprendizado em todos os sentidos....
Entre goles de Vodka, as opinioes, os comentarios inteligentes, as aulas de comunicacao dentro de casa.(Se e que ja nao bastasse Dalvinha.)
Mas ter convivido com este intelectual deixou em mim profundos sentimentos e lembrancas....Por causa dele , descobri Colonia na Alemanha, aprendi a comer Gilo,a fazer maionese caseira.....descobri os grandes talentos de Ponta Grossa...poetas, filosofos,loucos como ele...como esquecer que pude conviver com Leminsky????????
NUNCA!!!!!As festas inesqueciveis,mesmo com sua alegria germanica, contida.
Tenho varias lembrancas dele.Pude observar Wambier literalmente em meio a valvulas, e transistores da epoca....Nao tinha lugar para tanta tralha,dele, dos amigos.. Onde colocar um berco naquele mundo??????rsssssss
Ele precisava de muita calma. ... Nada que uma boa dose de Vodka, um cigarrinho e uma boa musica tocando nao resolvesse.
Saudades Wambier, destas que a gente nem sabia que sentia tanto....

marina w. disse...

Muita saudade tb! Foi um dos professores mais queridos que nós tivemos, uma pessoa boa, legal e, com todo respeito, tão charmoso! :)

Puxa, como foi embora jovem :(

Me deu vontade de chorar agora :\
Um beijo, Dalva querida

Renato Sigiliano disse...

Tive a feliz oportunidade de conviver com o Manoel. Eu o chamava de "Tio Bude", alcunha que ele já acumulava muito antes de ir para Alemanha. Vira e mexe eu lembro de suas histórias, sintonias finíssimas com uma vida muito alegre. Recentemente, o assassinato do escritor paranaense Wilson Bueno, grande amigo de Bude, trouxe-me uma cascata de lembranças. Tomara realmente que exista outra vida após esta. O Tio Bude é cara que faço questão de reencontrar. Saudades...
Beijo pra você, Dalva; outros nas meninas, que hoje são mulheres lindas, que sei.