segunda-feira, 8 de junho de 2009

Réquiem para João Antônio

Reli João Antônio neste final de semana. Malagueta, Perus e Bacanaço, seu grande clássico, com o qual conquistou dois prêmios jabutis de uma só vez, melhor livro de contos do ano e revelação de autor. Impressionante como quase ninguém conhece João Antônio, apesar deste extraordinário escritor contemporâneo ter conquistado tantos prêmios, ter seus livros traduzidos e publicados em diversos países e ser objeto de teses de mestrado até no exterior.
Em sua obra, que ainda está para ser descoberta por tantos, João Antônio escancara, como nenhum outro escritor brasileiro, o mundo (ou o submundo) dos descamisados, dos biscateiros, dos pinguços, dos merdunchos (expressão cunhada por ele), dos salões de sinuca, do subúrbio, da zona do meretrício, dos pulgueiros. Seus personagens são sempre marginalizados, revoltados, incisivos, raivosos, assim como o próprio João que, contraditório como ele só, conseguia ser a mais doce das criaturas e, ao mesmo tempo, encarnar um ódio incisivo, sem medida por tudo que o rodeava. Pessimista incorrigível, João odiava o mundo das letras, as rodinhas literárias, as cerimônias oficiais, a hipocrisia, enfim.
Em seus contos e romances, João Antônio nos coloca frente a frente com uma realidade que nos cerca o tempo todo, mas que nos negamos a encarar. Mais: longe de despertar a nossa piedade, os personagens de João não pedem licença e parecem estar ali para peitar mesmo, para agredir, para chocar. Talvez seja por isso, aliás, que a obra de João Antônio nunca tenha tido a repercussão que merecia junto ao grande público e mesmo junto à crítica. Da qual, diga-se de passagem, ele zombava frontalmente.
Ah, e que grande jornalista ele foi. Dono de um texto ágil, enxuto, direto, fez grandes reportagens para a Realidade - me lembro especialmente de uma, sobre a Cidade de Deus – para o Pasquim e outros jornais alternativos. Foi ele, inclusive, quem inventou a expressão “imprensa nanica”.
Uma figura ímpar, o João. Era um solitário por natureza, mas me orgulho de ter sido sua amiga. João morava sozinho num apartamento na Praça Serzedelo Correia, em Copacabana e seu corpo só foi encontrado quinze dias depois da sua morte. Um triste e horroroso fim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sempre ouvi falar de João Antônio, li alguns textos seus, e não vi em nenhum jornal notícia sobre a morte dele.
Morrer assim, foi o preço q. pagou pela opção q. fez como viver.
Mesmo assim, muito triste ir embora desse jeito.