sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

“Abaixando a máquina” e o cotidiano dos repórteres fotográficos que fazem cobertura policial no Rio


O documentário “Abaixando a máquina - Ética e dor no fotojornalismo carioca”, foi exibido no semestre passado na faculdade, seguido de um debate sobre o tema. Esta semana tive oportunidade de assisti-lo novamente em casa e acabei fazendo um monte de cópias do DVD para meus amigos fotógrafos e alguns coleguinhas aqui do jornal.

O vídeo, de 2007, em longa-metragem, foi produzido pelo fotógrafo Guillermo Planel e o jornalista Renato de Paula, de forma independente, mas conseguiu ser exibido em diversos cinemas. Mostra o dia-a-dia dos repórteres fotográficos que fazem a cobertura da violência no Rio de Janeiro, a tensão, o medo, os dilemas dos profissionais no momento do registro dos conflitos, chacinas, confrontos e enterros. Impressionante como eles se expõem a riscos, ficam no meio de tiros cruzados, na maior. Precisa ser muito corajoso mesmo, eles vivem numa guerra civil.

"Muitas vezes saímos de casa sem saber se voltaremos”, diz, no filme, o premiado fotógrafo Severino Silva, de O Dia, um dos melhores profissionais do Brasil. A equipe de filmagem acompanhou a ação dos fotógrafos em tiroteios, como o momento em que um deles registra a imagem de um traficante atingido por um tiro de fuzil durante um tiroteio no Catumbi. “Não tem jeito, ficamos torcendo para a ação acontecer”, diz Nilton Claudino.

Contraditoriamente, estes mesmos profissionais jamais se acostumam com a violência que acontece diariamente diante de seus olhos. Um dos momentos mais pungentes do filme é quando o fotógrafo Wilton Jr. chora ao lembrar de uma foto feita num velório, congelando a imagem de uma menina chorando com a mão estendida sobre o corpo da irmã de dez anos morta, num caixão. Outro depoimento impactante é o do fotógrafo Custódio Coimbra, ao lembrar da tragédia com o ônibus 174. Ele estava lá e viu quando o bandido apontava sua pistola para a cabeça das duas mulheres que estavam lá dentro como se estivesse fazendo unidunitê. “Se o cara atirasse eu deixaria de ser fotógrafo”, disse.

(Foto: Agência Reuters)

Taí um trabalho que mexe com a gente. Não dá para ficar indiferente à dor de cidadãos que perdem seus filhos nos tiroteios da vida. Não dá para não se indignar com os conflitos armados e as imagens da guerra cotidiana travada diariamente entre bandidos e policiais nas favelas, morros e ruas da cidade. Sim, o filme é forte, a gente sofre junto com as vítimas e também com os nossos colegas que registram todas estas tragédias com suas máquinas. Mas também é verdadeiro, necessário.

(Foto: Marcos Tristão, de O Globo)

Sim, necessário até porque coloca em questão temas como a ética da cobertura policial e invasão de privacidade. De fato, não há coisa pior e mais difícil que registrar cenas íntimas e tão sofridas, como enterros ou o drama de famílias ao encontrar seus parentes mortos. Seria este é o momento de abaixar a máquina? Pode ser que sim pode ser que não. O filme levanta questões, mas não conclui nada. Ficam para o julgamento de cada um.

(Foto vencedora do Prêmio Esso 2006 - Engenheiro é morto no Centro)


Um comentário:

Ana Borges disse...

Tenho o maior respeito e admiração por esses profissionais, uns apaixonados, fissurados pelo q. fazem, q. com coragem, parecem esquecer o risco q. correm.
Mas ñ vou assistir esse docu ñ.
Tô cansada disso tudo.