segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Boni, o eterno campeão de audiência fala do futuro da mídia





Tive o privilégio de assistir à palestra do Boni na
Casa do Saber, um espaço super interessante, com uma programação de cursos e palestras de uma qualidade excepcional e que há muito tempo eu queria conhecer. O título da palestra não podia ser mais chamativo: “No ar, um campeão de audiência de todos os tempos".

Conhecido como o Todo Poderoso da TV Globo ou o inventor do ‘Padrão Globo de Qualidade’. Boni é, na verdade, muito mais que isso. Não conheço a carreira dele de perto (nem seu caráter), mas digam o que disserem sobre ele, ninguém pode negar que o cara é o que se pode chamar de uma enciclopédia viva da televisão brasileira. Participou de tudo, de tudo mesmo, desde que a TV chegou ao país, na década de 50.

O mais bacana, porém, é que, ao contrário de tanta gente na sua faixa etária - já bem entrado nos 70 - Boni nada tem de saudosista ou de nostálgico, pelo contrário, até evita falar do passado. É super jovial, até na voz e na postura e está antenadíssimo com as novas mídias. Daí meu interesse em ouvir o que ele tinha a dizer. E foi ótimo.

Durante boa parte da palestra/debate com a plateia, Boni falou sobre a tevê digital e foi muito questionado sobre as mudanças tecnológicas que estão começando a ser implantadas no país. Dono de uma rede de afiliadas da Rede Globo no Vale do Paraíba, em São Paulo, a TV Vanguarda, ele vem acompanhando muito de perto todas estas mudanças. Vale um parênteses para falar da TV Vanguarda, que não é vanguarda só no nome, não. As emissoras de Boni privilegiam a experimentação, a inovação, com foco no jornalismo ao vivo e na cobertura de evento. Um caminho que tem dado muito, muito certo, em todos os sentidos.

Mas, voltando à tevê digital, Boni não fez por menos. Chamou esta história de tevê digital de “falácia", pois a dita cuja não chegará à maioria dos lares brasileiros. Lembrando que apenas 7% da população têm tevê a cabo ressaltou que os equipamentos custam muito caro e as diferenças na imagem não são tão perceptíveis.

"Na época em que a TV virou colorida, aí sim, havia um estímulo óbvio, que era ver as imagens em cores, uma coisa inédita. Hoje, não. A imagem das TVs é muito boa", resumiu. Conclusão óbvia: estão é fazendo propaganda enganosa para convencer as pessoas a aderir. Tem mais. Por enquanto, pouquíssimos canaos transmitem em alta definição (HD) e com som surround, assim mesmo apenas alguns programas. Interatividade, então, nem se fala. Não tem ainda.

O que não quer dizer, vale ressaltar, que a mudança do sistema analógico para o digital não é necessária. É, sim, claro. O papo foi muito longe, mas a essência do que ele disse a esse respeito foi o que se podia mesmo esperar de um homem como ele: "É preciso se atualizar. Sempre”.

Um dos itens que permeou toda a palestra/debate com Boni foi o futuro - não apenas da tevê mas dos demais veículos de comunicação neste tempo em que tudo converge, impreterivelmente, para o digital. Ele foi taxativo. A web não vai tirar o lugar da televisão assim como esta não tirou o lugar do rádio. “Um meio não mata o outro”, afirmou. Só os impressos estão mesmo com os anos contados, garante Boni, que não deu nem 30 anos para os jornais de papel desaparecerem. "Não tem como segurar, sua produção, o processo de impressão, a distribuição, tudo isso implica numa tecnologia muito ultrapassada, além de essencialmene antiecológica".

Outro papo que rolou durante a palestra, que transcorreu num altíssimo nível, com intervenções da plateia sempre muito pertinentes e bem colocadas, foi a questão do conteúdo, este, sim, o ponto mais importante em qualquer debate sério envolvendo a mídia, de uma maneira geral. E não teve meias palavras ao afirmar que a televisão envelheceu, estacionou, está engessada, apostando no mesmo formato de sempre. “Nada de novo apareceu na TV nos últimos anos, além do Big Brother Brasil”, disse. Admitiu, porém, que se estivesse lá certamente não exibiria o programa. “Já comprei muita porcaria para não usar, só para não deixar que a concorrência comprasse e se desse bem”.

Também se conversou muito com Boni sobre a tevê pública. “O país precisa, sim, de uma tevê pública, mas tem de ser bem feita para justificar o investimento e dar audiência”, opinou, enfatizando que a tevê pública não tem obrigação de competir com as grandes, mas tem de ser atraente, como uma emissora comercial, só que com um conteúdo melhor, diferenciado. O que não acontece. “Ali não tem gente do ramo, ninguém entende de televisão” disparou.



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