Wambier ao fundo durante entrevista de Prestes na PUC
Figurinha inesquecível e querida foi o Wambier. Professor, jornalista, radialista, foi também tradutor, locutor, apresentador de telejornais e documentários. Sem exagero, ele tinha uma das vozes mais bonitas do rádio, da TV e da publicidade. “Eterno menino do Rio”, como foi descrito pela jornalista Lenira Alcure (com quem também foi casado), Wambier era, realmente, o mais carioca dos cariocas.
Apesar de nunca ter deixado de cultivar suas raízes pontagrossenses, só poderia ter vivido feliz mesmo no Rio. Mais precisamente, em Ipanema, onde se sentia em casa. Acordava tarde, dormia tarde, estava sempre cercado de amigos e mulheres, adorava um pé sujo, conhecia tudo o que era pinguço da Lapa e das redondezas. Não perdia uma praia, sempre no final da tarde e, nos finais de semana, preparava almoços antológicos para nós e uma galera de agregados. Que eram muitos. Os fixos, que viviam como satélites a seu redor e a imensa legião de fãs e conhecidos que apareciam de vez em quando, que ele encontrava na rua, na praia, no bar, na redação, na faculdade e levava prá casa. A qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada.
Wambier era um maravilhoso contador de histórias e se divertia mais do que todos com elas. Sabia consertar tudo que é aparelho eletrônico e parecia sentir prazer em passar horas debruçado em válvulas e transistores. Filósofo por formação e por natureza, não suportou continuar no Brasil durante a ditadura e foi parar na Alemanha e na Suécia, onde passou quase dez anos.
Mas assim que a situação melhorou, tratou de voltar para a sua Ipanema e nem poderia ser diferente. Wambier adorava uma roda de samba, de chorinho, gostava de festa. Quando o astral baixava, era o primeiro a sugerir: “Que tal dar uma festa, em?” Não era difícil nem saía caro preparar alguns litros de caipirinha, umas pastinhas e espetinhos de carne para assar na churrasqueira. O chopp, a turma mais chegada rachava. E, mais uma vez, a cobertura da Lagoa se abria para uma multidão. Nunca tivemos problemas. Bons tempos aqueles.
Manoel Wambier era o pai de Leo, que rodou, rodou, mas voltou para Ponta Grossa, e de minhas filhas, Helena e Julia - 'as suas meninas', como ele sempre dizia - e morreu cedo demais, aos 50 anos. Durante a inauguração dos estúdios de rádio e TV da PUC (que, aliás, levam seu nome), Lenira fez um discurso belíssimo onde contou que antes de morrer, Wambier fez a seguinte confidência: “Pela primeira vez em minha vida, sinto que meu corpo é uma coisa e eu, sou outra." Hoje, dia 8, Wambier estaria completando 67 anos. Se fosse religiosa rezaria por ele em minhas preces. Saudades de você, Wambier.